1 de fevereiro de 2016

Novo endereço!

O blog agora está com um novo endereço: www.marianamagcosta.com/blog

Ele agora foi incorporado ao site de projetos da arquiteta Mariana Magalhães Costa.

Não deixem de acompanhar!

7 de janeiro de 2016

Chiharu Shiota no SESC Pinheiros | São Paulo



Aos que estiverem em São Paulo essa semana, ainda dá tempo de conferir a exposição “Em Busca do Destino” no SESC Pinheiros, que traz 3 intervenções da artista japonesa Chiharu Shiota.  Shiota já foi assunto aqui no blog com a sua belíssima intervenção para a Bienal de Arte de Veneza 2015. A exposição termina domingo, dia 10 de Janeiro.

“Em busca do destino”, que é a primeira exposição da artista no Brasil, traz uma reflexão sobre a vida que poderia ter sido. Shiota diz que sua família cogitou se mudar do Japão para o Brasil e que ela facilmente poderia ter nascido aqui.  Ao andar por São Paulo, especialmente pelo bairro da liberdade, ela procurou imaginar a vida que poderia ter sido.

Sapatos foram doados pelas pessoas.


A memória é um tema recorrente na obra da artista.  Ela utiliza objetos antigos e do cotidiano - cartas, malas e sapatos – objetos que, segundo ela, estão repletos de histórias e sentimentos.

Intervenção com malas antigas penduradas sobre a escada rolante.
Suas intervenções contaram com a participação da população, que se dispôs a doar sapatos e a escrever as cartas de agradecimento que foram utilizadas na instalação principal.  Embora cada obra ocupe o espaço de uma maneira diferente e seja composta por elementos distintos, todas elas tem um fio condutor em comum, uma linha de lã que liga os objetos entre si.  Essas linhas enaltecem a relação entre os objetos e também agem como estrutura da obra.


"Cartas de agradecimento". A composição de linhas gera corredores.




17 de dezembro de 2015

João Vilanova Artigas

foto: cristiano mascaro. fonte: archdaily.com


Em 2015, João Vilanova Artigas completaria 100 anos.  Ao longo deste ano, foram realizados diversos eventos comemorativos relembrando a vida e obra do arquiteto; O Itaú Cultural em São Paulo organizou uma exposição reunindo vídeos, fotos, desenhos e maquetes da sua obra; Em Junho foi lançado o documentário “Vilanova Artigas: o arquiteto e a luz”(cujo trailer se encontra abaixo), dirigido por sua neta Laura Artigas e Paulo Gorski, e que contou com uma apresentação especial na programação da FLIPMais, durante a Feira Literária de Paraty; além da criação de um oficial do arquiteto: http://www.vilanovaartigas.com  Por isso, o blog hoje também presta uma homenagem a esse que é um dos grandes mestres da arquitetura moderna brasileira.



Nascido em Curitiba, no Paraná, João Vilanova Artigas formou-se engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica de São Paulo, em 1937, e veio a se tornar um dos principais representantes da escola paulista. Apesar de ser mais conhecido por seus projetos brutalistas, como o prédio da faculdade de arquitetura da USP (FAUSP) ou o estádio do Morumbi, sua obra reúne projetos diferentes entre si, o que revela uma multiplicidade de influências e um amadurecimento do arquiteto ao longo de sua trajetória.

Enquanto a escola carioca acompanhava de perto os passos de Le Corbusier, em um primeiro momento, Artigas foi profundamente influenciado pela arquitetura orgânica do americano Frank Lloyd Wright.

A influência de F.L. Wright na arquitetura de Vilanova Artigas (1938-1944)


Vilanova Artigas entrou em contato com a arquitetura de Wright nos anos 40, através de revistas americanas que chegavam ao Brasil.  Ele admirava o modo como Wright percebia a arquitetura. Wright costumava dizer que a terra e o processo construtivo estavam intimamente ligados à arquitetura.  A chamada “arquitetura orgânica” busca uma integração, uma simbiose do construído com a natureza e a diluição do objeto na paisagem; há uma nítida recusa da monumentalidade em seus projetos. Salienta-se um desejo de camuflar a arquitetura com o seu entorno. Daí vem a preferência do americano por matérias primas, como a pedra e a madeira, ou materiais resultantes de transformações primárias, como o tijolo e a telha, cujas cores e texturas se assemelham à natureza.

Frank Lloyd Wright também dava muita importância à qualidade do espaço interno.  Em suas obras, o interior imperava sobre o exterior.  Para ele, a concepção de um edifício deveria ser guiada pela disposição interna e as fachadas deveriam traduzir essa composição.

A influência da “arquitetura orgânica” de Wright pode ser encontrada em obras como a Casa Paranhos ou a “Casinha”, onde Artigas morou.

Fonte: http://projecaoconstrutiva.blogspot.com.br/2011/09/influencia-wrightiana-no-brasil-casa.html

No projeto para a Casa Paranhos(1942-1944) foi preservada uma fidelidade à concepção artesanal.  As janelas fixas na fachada seguem um plano contínuo, sempre muito próximas da linha do telhado.  As janelas de esquina contribuem para uma diluição da forma.  O espaço interno fluido se reflete nos volumes externos. A composição impressiona pela nitidez, pelo rigor mas também por sua leveza.



A Casinha. Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/casa-vilanova-artigas

Casinha (1942), primeira obra que o arquiteto projetou para si mesmo, o que lhe proporcionou uma liberdade que até então ele não tinha nos outros projetos.  Havia pouca diferença entre fachada principal, de frente e de fundos, rompendo assim com uma hierarquia entre partes.  O espaço interno dispunha de poucas divisórias, oferecendo assim uma fluidez entre os ambientes.

O envolvimento político de Vilanova Artigas


Artigas se associou ao partido comunista em 1945.  Dois anos depois, com a cassação do registro do partido, sua participação política torna-se ainda mais assídua, o que fomenta o seu compromisso social e o tom cada vez mais exaltado de seus artigos.

Em 1952, ele publicou o polêmico “Caminhos da Arquitetura”, onde contesta agressivamente os dois maiores arquitetos modernistas da atualidade: Frank Lloyd Wright, que tanto havia influenciado a sua arquitetura até então, e Le Corbusier.  Estes são taxados por ele como 'arquitetos de elite', criticados por produzir uma arquitetura voltada apenas para as classes dominantes.  Artigas encarava a filosofia de Corbusier como decorrente de um pensamento ingênuo, fundamentado na busca evasiva de um mundo utópico composto de formas puras, sem um real compromisso com a construção. Isso sem contar que se aproveitava da arquitetura de modo que esta servisse para reforçar a dominação do homem pelo capital.  Trata-se um documento que exala a tensão daquele momento político vivido pela esquerda, caracterizado por embates ideológicos do período da guerra fria e a campanha contra o imperialismo americano.



Fonte: http://vilanovaartigas.com/cronologia/periodos/1950-1959?page=3 


Artigas era um homem inquieto e acreditava que a única maneira da arquitetura proporcionar mudanças significativas para a sociedade seria através de alguma relação política.  Caso contrário, o conflito entre as classes jamais seria resolvido.  A política deveria, portanto, ser visada como um componente intrínseco na arquitetura e essa associação entre ambos era um atributo que todo arquiteto deveria reconhecer e almejar em seus trabalhos.  Com isso, Artigas passa a considerar em seus projetos a função social do arquiteto, sempre enfatizando a arquitetura como crítica à realidade.

A influência de Le Corbusier na obra de Vilanova Artigas - uma reviravolta no seu discurso (1945)


Suas convicções políticas fizeram com que o arquiteto levantasse uma série de questionamentos quanto a mensagem exprimida em sua arquitetura. Ao defender uma arquitetura majoritariamente artesanal, não estaria Artigas negando o progresso, algo tão fundamental para o desenvolvimento da nação brasileira? Estaria a submissão de suas obras à natureza demonstrando uma descrença na capacidade humana? Artigas faz mais do que simplesmente refletir sobre o significado de suas obras - Ele reavalia sua maior fonte de inspiração. 

A impessoalidade da geometria de Le Corbusier, por outro lado, corresponde a um anseio de democratização da forma moderna.  Similarmente, o incentivo de Walter Gropius à produção em larga escala viabiliza o acesso das massas a esses produtos.  Com isso, a tecnologia torna-se cada vez mais presente nas obras de Artigas. A arquitetura se afata da natureza e se aproxima do urbano e do processo industrial.

A partir de 1945, Artigas abandona de vez a sua submissão à natureza e dedica-se à compreensão e aprimoramento das técnicas construtivas visando materiais modernos.   Evidenciam-se em suas construções a sua atração pela crueza do material, as suas preocupações com o espaço interno e a unificação do mesmo com o sistema urbano, intercalando a organização racional com estudos psicológicos. Dentre suas principais características, predominam os volumes geométricos puros, sendo esses frequentemente coroados por uma cobertura em V e constituídos de espaço interno fluido que conferem ao conjunto um dinamismo através do jogo de rampas e níveis desencontrados.  Isso sem contar com a interação do espaço encerrado com o ambiente externo, realizado por meio de grandes vãos na fachada e a continuidade com o piso da calçada.

Projeto de Sua Segunda Casa(1949)


A segunda residência do arquiteto foi construída no mesmo terreno da “Casinha”.  Há um forte contraste entre as linguagens das duas residências.   Enquanto a primeira remete a um processo construtivo mais artesanal, através do uso de madeiras, tijolos e telhas cerâmicas, a segunda faz uso de grandes planos de vidro e formas geométricas.  A opacidade e reclusão da casinha se contrapõem à transparência da segunda casa. Há uma leveza nesta nova casa que atribui uma maior elegância ao conjunto, bem como uma maior pureza no volume.  O desenho invertido das águas do telhado contribui para a expressão formal da construção.
A continuidade visual é um aspecto importante no projeto. Há uma continuidade entre o ambiente interno e externo.  Além da continuidade visual pelas grandes esquadrias de vidro, há também uma continuação do piso graças à rampa de acesso.

FAUSP(1961-1969)


Foto: Jos Moscardi Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-usp

A Faculdade de Arquitetura da USP é conhecida como um dos projetos mais importantes de sua carreira, considerada a mais bem sucedida experiência de conjugação entre interação espacial e social. Nesta construção, Artigas conseguiu reunir arquitetura, pensamento pedagógico e ideologia social, gerando uma composição em perfeita sintonia.  A tese central do projeto gira entorno da concepção do espaço como promotor das relações humanas.  Esse conceito contribui para a concepção da arquitetura em seu papel primordial de abrigo.





Foto: Nelson Kon Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-usp

Trata-se de um volume de forma pura, fechado para o exterior nos pavimentos superiores mas que proporciona uma continuidade com a calçada no nível do térreo.  Suas grandes fachadas de concreto aparente revelam o seu processo construtivo pela marca das tábuas utilizadas como fôrma. A natureza hermética do volume visto do exterior contrasta com a amplitude de seu interior.  Ao adentrar o edifício, vislumbramos um espaço que se abre em todas as direções, seguindo pelas rampas que atravessam o edifício.

Embora este seja um edifício coberto, a faculdade não deixa de ser um espaço público. Ela pertence a cidade e essa noção é enfatizada em sua espacialidade.  Não há uma porta principal ou um único acesso propriamente definido.  É um espaço que se abre para vários lados e qualquer um pode entrar.  A ideia é que o movimento dos usuários caracterizasse o espaço por completo.



O Pavimento Térreo possui a maior área. Nele se desenvolve uma espécie de praça central interna que recebe luz diretamente da abertura zenital na cobertura.  Ou seja, a cidade é trazida para dentro da construção.  Um espaço agregador, que propicia o encontro, a convivência e a solidariedade.  Ele já foi inclusive palco de manifestações políticas, como vemos na foto acima.



Foto: Nelson Kon Fonte: http://www.vilanovaartigas.com/cronologia/projetos/faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-usp

Os pilares externos possuem um desenho distinto onde uma forma plana e triangular intercepta um volume piramidal tridimensional que se eleva do solo, como se a fundação estivesse ascendendo.  Esta solução faz uma alusão às forças da natureza ao provocar um encontro direto e inesperado entre forças contrastantes - a força da gravidade, que tende a puxar os corpos para a terra, e a reação inversa.

Sua morfologia bruta e pesada faz da FAUSP uma obra enraizada, próxima da terra e das pessoas, mas ao mesmo tempo transcendente, através da iluminação zenital e da hegemonia grandes dos vãos, ressaltando um pensamento utópico perante a situação do mundo.

Conclusão

A trajetória de Artigas apresenta saltos bruscos entre estilos. Apesar disso, certos princípios tais como a honestidade do material, a fluidez do espaço e a franqueza funcional são mantidos através da sua obra, o que revela um gradual amadurecimento.  Estas premissas revelam a sua ideologia política, algo que influenciou diretamente a escolha dos arquitetos cujas obras nortearam a sua produção, passando do organicismo de F.L. Wright, pelo racionalismo de Le Corbusier, e eventualmente chegando ao patriotismo visando obras nacionais como as de Niemeyer e Reidy.




18 de novembro de 2015

Bienal de Arte 2015 | Veneza

Obra de Chiharu Shiota no Pavilhão Japonês
Sob a curadoria do nigeriano Okwui Enwezor, o tema da bienal de arte de Veneza deste ano foi “All the World’s Futures”.  Durante a minha passagem relâmpago pela cidade, eu não consegui ver toda a bienal, que além de incluir a mostra no ‘arsenale’ e os pavilhões de mais 29 países no ‘giardino’, ainda conta com uma série de exposições paralelas espalhadas pela cidade. Para visitar a bienal com calma, eu diria que pelo menos dois dias seria o ideal.  Nesta minha visita, priorizei a visita aos pavilhões do giardino.  Faço aqui uma seleção dos 5 melhores pavilhões deste ano e uma breve descrição de cada um.

 Pavilhão Japonês



O pavilhão do Japão trouxe uma intervenção da artista Chiharu Shiota, japonêsa radicada em Berlim.  Sob o nome “The Key in the Hand” (A chave na mão), a instalação era composta por três elementos distintos: a chave, a canoa e a linha vermelha. A chave e a canoa simbolizam a memória: a chave porque ela liga as pessoas umas às outras e a canoa porque ela liga as pessoas aos lugares.  As linhas vermelhas surgem como fio conector, ligando estes dois elementos entre si.  O desenho formado pelas linhas vermelhas gera um corredor emoldurado, uma espécie de túnel. As chaves entrelaçadas ao longo das linhas foram coletadas pelo artista em viagens por diferentes países.  Em sua essência, a obra fala sobre tempo e memória.  Uma instalação que nos envelopa por completo. O resultado é sensível e contundente.

Chaves coletadas pelo mundo

Túneis criados pela rede de linhas vermelhas

Pavilhão Escandinavo (Noruega, Finlandia e Suécia)


Intervenção de Camille Norment assume a forma de molduras, que se assemelham às esquadrias do pavilhão.


Belíssimo exemplar de diálogo entre arte e a arquitetura.  O que averiguamos na intervenção de Camille Norment para o pavilhão da escandinavia é praticamente uma simbiose entre a arte e a arquitetura.  A artista criou molduras com dimensões semelhantes às esquadrias do edifício. Ela então dispôs essas molduras próximas das fachadas envidraçadas, porém inclinadas, amontoadas umas sobre as outras como se estivessem jogadas.  Entre elas, verificamos ainda pedaços de vidro estilhaçados pelo chão.  Em alguns casos, as arestas destas molduras jogadas se alinham com a estrutura das janelas do pavilhão. Adquirimos então a impressão de que estas molduras, que foram ali colocadas, surgem do próprio edifício. Essa disposição nos dá a impressão de que elas estiveram lá o tempo todo, que realmente fazem parte do conjunto. Com isso, a nossa percepção do edifício e de seus limites é modificada.  Ao mesmo tempo em que temos uma sensação de revolta ao nos depararmos com essas estruturas quebradas, a semelhança das molduras com o edifício transmite uma sensação de harmonia no conjunto.  A obra gera uma tensão e uma harmonia simultaneamente.


Molduras se assemelham às esquadrias do prédio, há uma harmonia entre a inserção e o existente.
Ao adentrarmos mais no interior do pavilhão, nos afastamos dessas molduras anguladas e chegamos a um espaço vazio, sem barreiras físicas, mas com alto-falantes gigantescos que se projetam do teto.  Aqui, a ambiência não é mais criada por barreiras ou elementos físicos, e passa a ser criada apenas pelo som.  Ultrapassando as primeiras barreiras, adentramos um espaço de contemplação.

Som cria a ambiência no interior do pavilhão

Pavilhão Francês



Céleste Boursier-Mougenot trouxe uma árvore que se move para o pavilhão francês.  A artista criou uma simbiose entre a natureza e a máquina. Deparamo-nos com uma espécie híbrida, fruto da natureza com a intervenção humana.  A árvore cinética foi colocada no ambiente central do pavilhão, sob uma claraboia.  Os ambientes ao redor tiveram o seu chão coberto por um estofado macio (que à primeira vista parece feito de pedra) para que os espectadores possam sentar e relaxar, contemplando a árvore no centro.  Além dos estofados, essas salas possuem alto falantes que ampliam o som do motor que move a árvore.  Ou seja, aqui, o zumbido gerado pela tecnologia é o ruído constante que transmite a paz e cria uma ambiência quase meditativa.  A serenidade que as pessoas buscam na natureza são recriados aqui pela tecnologia.

Pavilhão Holandês




O pavilhão holandês seguiu uma tendência que eu particularmente gosto muito e considero inclusive muito pertinente ao momento atual.  Como falei no post anterior, a Expo Universal de Milão deste ano trouxe o tema de alimentação.  Em sintonia com essa discussão, o artista Herman de Vries, em sua mostra intitulada “to be all ways to be”, reúne obras que apresentam materiais e alimentos em sua essência.  Entre elas encontramos uma série de quadros com pigmentos de diferentes países, uma série de paisagens constituídas a partir de ramos de trigos, uma composição de botões de rosa seca expostos no chão e uma coleção de foices, simbolizando o movimento, manipulação humana da terra.  O interessante desta mostra é que ela traz ao espaço expositivo elementos muito ligados a terra, reforçando essa crescente consciência de contato e retorno a natureza, a importância de uma postura cada vez mais sustentável.   A obra de De Vries ressalta a união e, ao mesmo tempo, a diversidade entre estes elementos.  As nações se unem em suas semelhanças, porém também em suas diferenças, suas particularidades e complementariedades.


Composição com botões de rosa seca




Quadros com pigmentos de diferentes países
Paisagens constituídas a partir de ramos de trigos

Pavilhão Romênia




Em uma expo de soluções high tech e obras que exploram a espacialidade, uma série de pinturas parece algo do passado, ‘out-of-date’. De fato, a pintura já foi muito explorada ao longo da história da arte e, por ser uma linguagem tradicionalmente estabelecida, é mais difícil de inovar nela. Não é de se surpreender, portanto, que as pinturas estão se ausentando das mostras de arte contemporânea, ou pelo menos, já não ocupam o papel central. Por isso mesmo, a atitude do pavilhão da Romênia consegue ser ao mesmo tempo corajosa e despretensiosa. 

O pavilhão reúne 20 quadros do artista Adrian Ghenie, que olha os desenhos e os estudos de Charles Darwin sobre um prisma considerando a história do século 20.  O resultado é uma coleção bela e contundente, retratando figuras históricas marcantes (como Hitler, Lenin, van gogh...), protagonistas e anti-heróis num contexto abstrato e distorcido.

Bônus:

Pavilhão Finlandês

Construído em 1956, o pavilhão finlandês foi idealizado como uma estrutura temporária só para a exposição daquele ano.  O pavilhão permanece desde então. Projetado por Alvar Aalto, o pavilhão é composto por uma estrutura de madeira e foi inteiramente confeccionado na Finlândia.



Pavilhão de Israel

Tsibi Geva faz uma intervenção que explora um tema recorrente de sua obra – a ideia do lar, do corpo e do cotidiano.  Sob o tema ‘arqueologia do presente’, o artista utiliza objetos do cotidiano e faz uma intervenção que vai além dos limites físicos do pavilhão israelense.  Ele cobriu as fachadas com pneus de borracha, e no interior cobriu as paredes com elementos que vão desde eletro-domésticos e esquadrias a caixas de papelão.  Além dessa composição, há também pinturas.




Pavilhão Húngaro

A mostra “Sustainable Identities” de Szilárd Cseke traz uma instalação que ocupa todo o teto do pavilhão.  O visitante passa por baixo de uma estrutura de tubos de PVC com esferas internas que ficam se locomovendo a partir de ventiladores.  O movimento dessas bolas representa a transitoriedade das coisas e o movimento das pessoas.  Um assunto pertinente sobretudo nesse momento de discussão política acerca da imigração.




A Bienal de Arte de Veneza é uma excelente oportunidade para se familiarizar com obras de artistas de outros países que não conhecemos, muitos dos quais que já obtiveram algum reconhecimento nos seus países, mas nem sempre adquiriram status de reconhecimento internacional.  É interessante ver o que está sendo produzido e discutido no cenário artístico e cultural de outros países. A mostra segue em Veneza até o dia 22 de Novembro.

29 de outubro de 2015

Exposição Universal 2015 | Milão



A Itália recebeu este ano a Exposição Universal, um evento mundial que reúne diversos países. O tema desta edição foi “Feeding the Planet: Energy for Life”, e contou com mais de 140 participantes. Além de apresentar uma exposição dentro do tema, os países são convidados a construírem pavilhões próprios.  Dado o caráter efêmero da maior parte das construções, o que encontramos são projetos ousados e inovadores.  Mesmo que você não visite todas as exposições, só de ver a arquitetura dos pavilhões já é uma experiência fascinante.

Detalhe Pavilhão Japonês.

Foto Pavilhão Estônia. Projeto: Kadarik Tüür Arhitektid.



Foto Pavilhão Chile. Projeto de Cristián Undurraga.



Inaugurada no dia 1 de Maio, a mostra segue até 31 de Outubro. Nesta edição eram esperados mais de 20 milhões de visitantes, podendo chegar a um máximo de 250 mil por dia. Considerando esses números, não é de se espantar a imensidão das filas.  Tentei visitar o pavilhão do Japão, um dos mais cobiçados do evento.  Cheguei lá às 9 da manhã e, ao alcançar o pavilhão japonês, o tempo de duração da fila de espera já era mais de 7 horas(!).  Como só estive um dia no evento, não quis perder tempo em filas longas demais e organizei o meu percurso para conseguir ver o maior número de pavilhões interessantes possível.  Apresento aqui um resumo de alguns que visitei:

Pavilhão da Russia








Nossa primeira parada. O pavilhão russo, projetado pelo escritório SPEECH, apresentava um projeto imponente, cuja forma mais se assemelhava a de um barco.  Por baixo de uma gigantesca estrutura em balanço foi aplicado um material metálico altamente reflexivo que permitia às pessoas se verem espelhadas no teto antes de entrar na exposição.  Nas laterais, uma composição de ripas de madeira.

Pavilhão Marrocos









O pavilhão marroquino foi projetado pelo OUALALOU+CHOI. O projeto praticamente nos transfere para a ambiência dos desertos do Marrocos. O projeto tira partido da cor e textura terrosa do adobe em sua composição.  Há rasgos que permitem a entrada de luz pontualmente, dando um toque especial para o espaço interno.  

Pavilhão Estados Unidos


Fonte: http://www.buildingsexpo.com/


O pavilhão dos Estados Unidos é um projeto de James Biber.  O acesso e os espaços internos foram concebidos considerando um grande número de visitantes.  Com isso, não pegamos fila alguma e conseguimos entrar direto. Além dos espaços amplos, o projeto do pavilhão apresentava uma imensa horta vertical na sua fachada lateral.  As hortas foram plantadas sobre painéis que se movimentavam, abrindo e fechando repetidamente. Um espetáculo.

Hortas verticais na lateral do Pavilhão dos EUA.




No último pavimento, um grande terraço com um bar coberto por uma estrutura metálica e vidro. O vidro possuía um filme que ficava alternando de cor. 



Pavilhão França




Este foi o meu pavilhão preferido.  Por se tratar de uma estrutura temporária, os autores do projeto – o escritório Studio X-TU, em parceria com o Studio ALN Atelien Architecture e o Studio Adeline Rispal - utilizaram uma estrutura leve de madeira que pode ser facilmente montada e desmontada.  A forma do edifício faz referência a elementos orgânicos enquanto a decoração interna (utilizando elementos como pratos, panelas, etc) remete aos tradicionais mercados franceses.  A exposição complementava bem essa ambiência, falando sobre os atributos da dieta francesa (que recentemente tronou-se um patrimônio da unesco) e os avanços na agricultura do país.

Para finalizar a visita, na saída tinha uma autentica ‘boulangerie’ francesa que produzia e vendia baguettes, croissants e outras delícias típicas, trazendo o aroma do pão francês para o espaço.




Pavilhão Reino Unido





Projetado pelo artista britânico Wolfgang Buttress, o pavilhão do Reino Unido falava sobre as abelhas, trazendo descobertas feitas em pesquisas conduzidas pela universidade de Nottingham Trent. Antes de adentrar o pavilhão o visitante cruzava um jardim labiríntico cuja planta reproduz a forma hexagonal característica das colmeias.  Após essa primeira parte, adentramos uma sala que apresentava a pesquisa e em seguida subimos para entrar na grande instalação metálica que reproduz o ambiente da colmeia.  No interior, pequenas luminárias se acendem alternadamente, reproduzindo os estímulos aos quais as abelhas são submetidas. O visitante é convidado a vivenciar sensorialmente o ambiente das abelhas.

Pavilhão Brasil


Foto: Fernando Guerra. Fonte: www.archdaily.com.br




Projeto resultado de uma parceria entre os escritórios Studio Arthur Casas e o Atelier Marko Brajovic.  A estrutura metálica sustenta uma imensa rede sobre a qual os visitantes podem caminhar. O aspecto lúdico do pavilhão é um grande atrativo para os visitantes.

Histórico e edições passadas


Crystal Palace, projeto de Joseph Paxton, sediou a primeira Expo Internacional em Londres.
Fonte: http://www.pavilon-expo2015.cz/ 
A primeira edição da Exposição Universal aconteceu em 1851, em Londres. A intenção sempre foi de promover uma troca cultural e científica entre nações, além da criação artística e arquitetônica.  A intenção é deixar legados para as cidades que sediam o evento, como foi o caso da Torre Eiffel, em Paris (construído para a Expo de 1889), e o Atomium em Bruxelas (1958), entre outros.

A Expo reúne nações em uma preocupação com o futuro da humanidade, algo que se reflete nas escolhas dos temas. Trata-se de um encontro de paz onde cada país traz o que tem de melhor e há uma troca visando o bem comum.